Relógio

domingo, 26 de janeiro de 2014

Sobre o amor



O amor é um sentimento destinado à felicidade, tanto quanto ao sofrimento e também à doação. Se você ama (melhor seria dizer: se você é capaz de amar), não espere só grandes recompensas, respostas otimistas. Amar é apesar. 
Amor é o sentimento que se instala a partir do primeiro tédio. 

Amor não é o que nos atrai em alguém. Isso é atração, paixão, ou qualquer coisa parecida. 
Amor é o que nos mantém unidos. 
Quanto menos sentimentos exaltados, mais amor, união e durabilidade. 
O amor é um sentimento embaraçado nas raízes fundas do sentimento. 
Quem ama nem tem consciência dessas raízes. Teme-as. Prefere não vê-las. Porque vê-las será revelar-se. E revelar-se assusta. 
O amor é também o sentimento misturado com rejeição, raiva, irritação, convivência, desinteresse, tédio, o vazio a dois, o sumiço da paixão e as emoções mais intensas. 
Ele é tão grande, tão pleno, tão poderoso e incrível que resiste a tudo isso, inclusive as impossibilidades, estranho veneno que o alimenta. Mas isso é amor dodói. Amor saudável é apenas bom. 
Você não deixa de amar apenas porque já não gosta igual ou não sente a mesma atração. Talvez só agora você comece a ficar maduro(a) suficiente para poder começar a amar. 
Pessoas que se atraem à perdição talvez ainda nem começaram a se amar.. Enquanto apenas se atraírem, não alcançarão o amor. 

Alcançar o amor tem tanto de renúncia quanto de alegria, felicidade ou glória. Sim, a felicidade pessoal é compatível com o amor. Infelicidade, jamais. 

Mas amor é sério demais para almejar apenas felicidade. O amor visa a eternidade. A felicidade é apenas um caminho para ela. 
Assim como é preciso alguma crueldade para viver. Assim como há sempre alguma agressão embrulhada em qualquer vitória, assim, também, a alegria precisa de alguma inconsequência. Sem esta, restará apenas a lucidez, que é sempre repleta de ''trágicos deveres''. 

Libertando-nos da plena consciência, a inconsequência nos permite alguma alegria. Já felicidade é outro assunto. Está no campo do amor. 
Felicidade ganha de alegria assim como amor ganha de paixão. 

Mesmo quando venha nesta embrulhado.


(Artur da Távola)


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