Relógio

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Desajustes


É comum observar que o casamento promissor repentinamente adoece. Aparecem os empecilhos. Surgem conflitos, doenças, desníveis, falhas de formação e temperamento. Ora é a mulher que se casou pensando encontrar no esposo o retrato psicológico do pai, a quem se vinculara desde o berço. Ora é o homem a exigir da companheira a continuidade da genitora, a quem se jungiu desde a vida fetal. A lição do Evangelho contudo nos ensina: “Sede indulgentes, meus amigos, porquanto a indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita”. 

Precisamos compreender que o matrimônio é uma quebra de amarras através da qual o navio da existência larga o cais dos laços afetivos em que jazia ancorado. Na viagem que se inicia a dois, os nubentes se revelarão, um à frente do outro, tais quais são e como se encontram na realidade, evidenciando os defeitos e as virtudes que porventura carreguem. 

Razoável se convoque, em tais circunstâncias, o auxílio de técnicos capazes de sanar as lesões no barco em perigo, como sejam médicos e psicólogos, amigos e conselheiros, cuja contribuição se revestirá sempre de inapreciável valor; entretanto, ao desenrolar de obstáculos e provas, o conhecimento da reencarnação exerce encargo de importância por trazer aos interessados novo campo de observações e reflexões, impelindo-os à tolerância, sem a qual a rearmonização acena sempre mais longe. 

Urge perceber que a comunhão afetiva não opera a fusão dos parceiros, pois cada qual continua sendo um mundo por si, e nem sempre os característicos de um se afinam com o outro. Daí a conveniência do mútuo aceite, com a obrigação da melhoria do casal. Para isso, não bastarão providências de superfície. Há que internar o raciocínio em considerações mais profundas para que as raízes do desequilíbrio sejam erradicadas da mente. 

Aceitação, eis o problema. É preciso admitir o companheiro ou companheira como são e, feito isso, inicie-se a obra da edificação ou da reedificação recíprocas. 

Obtém-se da vida o que se lhe dá, colhe-se o material de plantio. Habitualmente, o homem recebe a mulher como a deixou e no ponto em que a deixou no passado próximo, isto é, nas estâncias do tempo que se foi para o continuísmo da obra de resgate ou de elevação no tempo de agora, sucedendo o mesmo referentemente à mulher. 

O parceiro desorientado, enfermo ou infiel, é aquele homem que a parceira, em existências anteriores, conduziu à perturbação, à doença ou à deslealdade, através de atitudes que o segregaram em deploráveis estados compulsivos; e a parceira, nessas condições, consubstancia necessidades e provas da mesma espécie. 

Seja qual seja o motivo em que o tédio se fundamente, recorram ambos ao apoio recíproco mais profundo e mais intensivo. Com isso, estarão em justa defesa da harmonia íntima, sem castigarem o próprio corpo. E reeducar-se-ão, sem hostilizar os que porventura lhes demonstrem afeto, mas acolhendo-os, não mais como cúmplices de aventuras deprimentes, e sim por irmãos queridos, com quem podem fundir-se, em espírito, no mais alto amor espiritual.


(Emmanuel)


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